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Ah….se a minha defesa falasse. Gotas de dicas para a sua defesa de TCC, Monografia, Dissertação ou Tese.

Alexandre Walmott Borges[1]

Fabiana Angélica Pinheiro Câmara[2]

Pois bem, tão antiga quanto a presença dos hominídeos na terra é a defesa oral dos trabalhos de conclusão de curso. Aqui falamos de trabalhos de conclusão em geral, mas, especialmente, este texto é dedicado às sessões de defesa de TCCs, dissertações e teses nos cursos de graduação e de pós-graduação em direito.  Neste pequeno texto esperamos colaborar com dois conteúdos: primeiro, que este texto sirva de guia para todos aqueles que têm o intuito de apresentar trabalhos; segundo, que sirva para rompermos as práticas, as más práticas que se enraizaram na tradição deste importante momento da vida universitária e acadêmica. Abaixo listamos algumas gotas de sugestões para as leitoras e para os leitores:

  1. NÃO LERÁS TODO O TRABALHO NA SESSÃO DE DEFESA. Esta talvez seja a prática mais horrorosa que se enraizou nas defesas de TCCs, dissertações e teses. É definido o dia da defesa e o/a avaliada/o comparece lendo todo o seu trabalho! Os graduandos, mestrandos e doutorandos do direito postam-se à bancada e leem todo o seu trabalho, num enorme resumo de tudo o que foi escrito! Esta postura sugere que:
    1. Os membros da banca avaliadora não são alfabetizados. Só pode ser isto. Eles e elas, avaliadoras/es, receberam o trabalho com a antecedência determinada no regulamento, mas não leram. Então o nosso/a bravo/a candidata/o resolve ajudar os membros da banca. Faz aquela modorrenta leitura de todos os capítulos, normalmente estourando os tempos regulamentares. Com isto o/a avaliada/o consegue superar as deficiências de alfabetização dos membros da banca. É a única explicação plausível. Sessão de defesa não é sessão de leitura resumida de TCC, dissertação e tese. É sessão de defesa. Também não é sessão de resumos. De novo, é sessão de defesa. É absolutamente ilógico preparar uma defesa de trabalho com o resumo de todos os capítulos, itens, etc. (siga o fio e veja o porquê).
    1. É para testar a conexão eletrônica dos dispositivos dos membros da banca avaliadora. Como ninguém foi ali para ouvir um resumo do que já tem, já está escrito e está ou em arquivo eletrônico, ou impresso, a única explicação para alguém ler um resumão do trabalho é para testar os membros avaliadores. Assim, a gente fica sabendo se a conexão dos tablets, celulares e dispositivos dos membros da banca tem um bom 4 ou 5G. Pois, afinal de contas, é o que acontece quando um/a candidato/a resolve ler tudo que está escrito. A única solução é os membros da banca conferirem o twitter, o facebook, o whatsapp, enquanto alguém fica ali na frente soltando palavras ao vento, sem que ninguém preste atenção.
    1. Na verdade, não é uma sessão de defesa. É uma sessão de demonstração da capacidade do/a avaliado/a decorar textos. Esta é outra explicação plausível para o que acontece nas chamadas sessões de defesa do direito. Um moço e uma moça se dispõem a mostrar às pessoas que conseguiu decorar enormes textos, o seu trabalho, e recitar na frente de todo o mundo de cor e salteado. Só pode ser isso.
  2. NÃO COMETERÁS ESTES PECADOS. Dicas de coisas que são repetidas em bancas do direito e que, por si sós, ofendem a dignidade da pessoa humana, os direitos do Artigo 5°, violam as cláusulas pétreas:
    1. Fiz uma pesquisa com a melhor doutrina.  Jamais diga isso. A melhor doutrina para quem, cara-pálida?! Para quem? Tu disseste? Quem elegeu a melhor doutrina?
    1. Fiz a pesquisa com a jurisprudência dominante. Ah é! E como ela domina o restante da jurisprudência? Ela ganhou algum concurso? Tem um percentual de dominância?
    1. Fulana ou Fulano de tal em brilhante livro. Zezé em festejada monografia.  Nunca fomos convidados para estas festas de monografia. A redação científica não cai bem com estes superlativos, adjetivações, grandiloquentes discursos. Na verdade, isto é extremamente brega.
    1. Não usarás o power point em vão. Pessoal, vamos lá, slides com o texto da tese, da dissertação, do TCC…. Não, obrigado! Se fores usar, sejas comedido/a. Figuras importantes, algumas palavras-chave, algum gráfico e…. ponto final.
    1. Não fales sobre o que não está lá.  Infelizmente não é incomum as pessoas dizerem coisas que, curiosamente, não estão no trabalho. Se não está no trabalho, não está no mundo. Não fiques inventando coisas que não podem ser argumentadas a partir do texto.
  3. O QUE DEVERÁS FALAR? Vamos repetir: a sessão é de defesa. Defesa do quê? De um trabalho científico. Opa, então o que eu tenho que mostrar? Tenho que mostrar que PROBLEMA eu apresentei na minha pesquisa. Isto mesmo. A apresentação do TCC, dissertação, tese deve começar pelo o que é e o que foi problematizado. Todo o trabalho científico tem um problema, uma pergunta, uma indagação: por que os recursos demoram a tramitar? Por que não há juiz de instrução no Brasil. É por aí que vais falar, iniciar a conversa. Ah, mas o meu trabalho não tem um problema. Amigo, amiga, aí a coisa é séria. Provavelmente tu não tens um texto científico.
    1. Segundo passo, mostra qual era a tua hipótese de trabalho. Depois do problema, tu provavelmente tens uma hipótese. Há uma ideia tua de resposta para a questão acima, para o problema. Apresenta isto aos arguidores. É disso que eles querem saber. Se quiseres, fala o que te despertou para o problema e para a hipótese. Será supimpa. Se não achas a hipótese, sugerimos voltar à redação do projeto de pesquisa (já que provavelmente pesquisa não existe).
    1. Feita a tarefa de apresentação do problema/hipótese, diz quais os objetivos do seu trabalho: quero analisar o X e o Y.  Talvez não, talvez queiras sistematizar isto. O importante é deixar claro os objetivos do teu trabalho.
    1. Materiais, gente, quais os materiais. Ponto dos mais importantes e tão reiteradamente sonegado nas defesas. O que tu usaste? Bibliografia? Qual? Para que usaste? Não foi só ela, usaste também julgados. Diga tudo. Esclareça tudo. Teve dificuldades para achar e lidar com o material? Diga. O material X serviu mais em determinada parte do trabalho. O material Y em outra parte. Mostre à banca como e com o que tu lidaste no e sobre o material.
    1. Metodologia. Não vá ao manual ‘comprar’ métodos. Seja natural e verdadeiro: – Olha para descrever isto eu fiz uma introdução geral e depois encaixei o objeto do meu trabalho para explicar melhor. Para isto usei os livros, os julgados, os materiais que falei acima.  É horrível o hábito que se criou de olhar para o manual de metodologia e de redação científica e ‘parir’ de lá o nome bonito de um método. Não, não te comportes assim. Diga com objetividade de que ponto partiu e a que ponto chegou. Temos a metodologia.

Resultados esperados e conclusões. Ao começares, tu tinhas um objetivo, uma tentativa de resolver um problema e tinhas uma hipótese. Se confirmaram? Ou não? Descreva. Atenção! Esta é a parte importante. A confirmação de que há uma monografia, de que há uma dissertação, de que há uma tese.  Por isto se chama defesa.  Já vimos ótimas sessões com 5 minutos de apresentação. Vimos muitas péssimas sessões de defesa durarem 50 minutos.


[1] Professor da UFU. Doutor em Direito. Doutor em História. walmott@gmail.com. twitter: @walmottram.

[2] Doutora em História Social pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e Mestre pela Universidade de Reading, Inglaterra. E-mail: camara.fabiana@gmail.com

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Sobre Alexandre Walmott

É graduado em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (1994), Especialista em História e Filosofia da ciência, mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (1996) e doutor em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (2002). Doutor em História pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU (2019). Atualmente é professor dos programas de pós graduação, mestrado em direito, da Universidade Federal de Uberlândia - UFU, e da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP; é professor da pós-graduação em biocombustíveis, mestrado e doutorado, programa conjunto da Universidade Federal de Uberlândia e Universidade Federal dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha.

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